Eu me lembro dos dias empolgantes no seminário quando missionários veteranos vinham para falar conosco na capela, falando sobre os grandes desafios de levar o evangelho para toda tribo, língua e nação. Nossos corações batiam com a expectativa de sermos enviados para algum canto remoto da terra para fazer a nossa parte em cumprimento da Grande Comissão. Isso nos fazia querer estudar muito e conseguir notas altas para sermos notados por grandes organizações missionárias como a WYCLIFFE e JOVENS COM UMA MISSÃO. Nós imaginávamos que lá, no campo missionário, era o lugar para servir a Deus de uma maneira mais radical, a maneira mais completa possível.
No nosso zelo idealista, alguns de nós ousamos fazer perguntas perturbadoras à medida que juntávamos as peças do quebra-cabeça das escrituras que não pareciam se encaixar com aquilo que estávamos ouvindo e vendo. Especialmente, a questão problemática era sobre a Grande Comissão:
Então, Jesus aproximou-se deles e disse: "Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto, ide e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos". (Mateus 28:18-20)
Nós ouvimos muito sobre a parte do “ide”. Isso nos empolgava. O mundo é um lugar imenso, cheio de oportunidades. E nós ouvimos também muito sobre a parte de “fazer discípulos” – como fazer o evangelho claro e simples, para que nós então pudéssemos chegar na parte de “batizando-os”. Essa era a parte que deixava as pessoas nas igrejas empolgadas, dando a eles a confiança de continuar dando suporte para as missões com seus dízimos e ofertas. Mas quando chega a parte do “ensine-os”, alguma coisa está faltando.
Bem, certamente não faltaram materiais de ensino a serem desenvolvidos para o campo missionário, mas a ênfase estava sobre os ensinos de doutrina cristã e princípios morais. De alguma forma a parte do “obedeça a tudo o que eu lhes ordenei” nunca foi dado muita atenção. Essa era uma parte desconfortável. Era mais encorajante pular para a parte do “e eu estarei com vocês sempre”, e pensar sobre Jesus voltando logo que nós pudéssemos levar o evangelho para todos os cantos remotos da terra.
Mas, por mais que eu tentasse não conseguia escapar daquela pergunta irritante: e todas as coisas que Jesus ordenou a seus primeiros discípulos? Afinal de contas era para eles que ele estava falando, não é mesmo? Pedro, André, Tiago, João, e todos os outros. O que ele havia ordenado para eles? No fundo, eu sentia que a razão pela qual esse era um assunto desconfortável no seminário era porque dificilmente poderíamos ensinar alguém a obedecer ao que nós mesmos não tínhamos obedecido.
Para começo de conversa, fiquei assombrado pela maneira com que tudo começou para aqueles primeiros discípulos:
“Andando à beira do mar da Galileia, Jesus viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Eles estavam lançando redes ao mar, pois eram pescadores.” E disse Jesus: “Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens”. No mesmo instante eles deixaram as suas redes e o seguiram.
Indo adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Eles estavam num barco com seu pai, Zebedeu, preparando as suas redes. Jesus os chamou, e eles, deixando imediatamente seu pai e o barco, o seguiram. (Mateus 4:18-22)
Foi o mesmo para todos os doze – todos eles deixaram tudo e seguiram o Mestre. Mas é claro, nós nos consolamos com a desculpa de que íamos servir ao Senhor em tempo integral, seja como pastores ou como missionários, mas e quanto a todos os outros? Nós não estávamos ordenando todos os outros a “deixar suas redes” para segui-lo, a menos que alguns deles tivessem o sentimento de estarem sendo chamados para o ministério. Mas isso não fazia sentido. Deixar tudo para trás havia sido o ponto inicial para aqueles primeiros discípulos, não o chamado mais excelente de alguns poucos escolhidos, já que eles tinham sido salvos fazia um tempo.
Até mesmo os doze não haviam se dado conta de que o chamado para o discipulado era o mesmo para todos, até o dia em que um jovem rico chegou correndo até o Mestre e disse:
“Bom Mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?”[1] Ele não estava perguntando sobre entrar num ministério de tempo integral, tudo o que ele queria era vida eterna. Foi por isso que a resposta do Mestre foi tão surpreendente, não somente para ele, mas também para os discípulos.
Jesus olhou para ele e o amou. “Falta-lhe uma coisa”, disse ele. “Vá, venda tudo o que você possui e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois, venha e siga-me.” Diante disso ele ficou abatido e afastou-se triste, porque tinha muitas riquezas. Jesus olhou ao redor e disse aos seus discípulos: “Como é difícil aos ricos entrarem no Reino de Deus!” Os discípulos ficaram admirados com essas palavras. Mas Jesus repetiu: “Filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus”. Os discípulos ficaram perplexos, e perguntavam uns aos outros: “Neste caso, quem pode ser salvo?” Jesus olhou para eles e respondeu: “Para o homem é impossível, mas para Deus não; todas as coisas são possíveis para Deus”. (Marcos 10:21-27)
Você pode ver que os discípulos estavam prestes a chegar a um entendimento maior. Não era incomum naqueles dias que um professor radical tivesse um grupo pequeno e devoto de discípulos ao redor dele, mas a coisa estava entrando num plano diferente – salvação estava em jogo. Esses pobres pescadores não podiam imaginar que pessoas ricas dariam tudo para seguir Yahshua, mas Ele gentilmente os recordou de que havia um poder além do próprio entendimento natural do homem, que poderia tirá-lo de sua existência solitária – isso é, fé. Pedro entendeu isso…
Então Pedro começou a dizer-lhe: “Nós deixamos tudo para seguir-te”. Respondeu Jesus: “Digo-lhes a verdade: Ninguém que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, ou campos, por causa de mim e do evangelho, deixará de receber cem vezes mais, já no tempo presente, casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, e com eles perseguição; e, na era futura, a vida eterna. (Marcos 10:28-30)
Não tem jeito de você arrodear: abandonar sua própria vida e possessões não era apenas um passo mais radical para alguns poucos superzelosos, mas era o ponto de partida para qualquer um que quissesse seguir o Filho de Deus. Ele não poderia ter dito isso de forma mais clara e enfática do que ele fez aqui:
“Se alguém vem a mim e não odeia[2] seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo. E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo. Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.” (Lucas 14:26,27,33)
Está claro, portanto, que a primeira coisa que Yahshua ordenou a Seus discípulos foi que abandonassem tudo para segui-Lo, e sobre essa fundação de obediência Ele podia dar-lhes mais mandamentos. A menos que eles começassem com obediência, não valia a pena ordenar-lhes a fazer qualquer outra coisa, pois eles não seriam capazes de obedecer de qualquer maneira, pois eram apenas homens naturais. Assim como Ele havia explicado a seus discípulos, a fé que receberam para deixar tudo e segui-Lo é o que lhes abriu o poder de fazer o que era impossível,[3] pois foi isso que os distinguiu como Seu povo especial, ao qual Ele mesmo pôde confiar.
Havia muitos que proclamavam crer n’Ele, mas Ele não se confiava a eles, pois não eram confiáveis.[4] Eles ficavam empolgados ao ver os milagres que Ele fazia, mas estavam contentes em continuar vivendo suas vidas independentes no mundo. Como eles poderiam obedecer aos mandamentos desse jeito? Por exemplo:
“Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? Porque todas estas coisas os gentios procuram. Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” (Mateus 6:31-33)
Como pode um homem não se preocupar com o seu próprio sustento e o da sua família? Naqueles dias, se um homem não trabalhasse diligentemente para arrancar da terra[5] algo com o que ele poderia se alimentar, ele e sua família passariam fome ou seriam reduzidos a mendigos ou escravos. Como você acha que Zebedeu, o pescador, se sentiu quando seus dois filhos Tiago e João, de repente o deixaram para “buscar em primeiro lugar o Reino de Deus” através de seguir esse pregador, Yahshua de Nazaré?[6] Que tamanha irresponsabilidade! Mas eles estavam debaixo das boas novas, confiando que Deus, de alguma forma, cuidaria deles.
E Ele realmente cuidou deles, não através de mendigar, nem de programas sociais, mas pelo milagre do amor que foi derramado em seus corações quando eles verdadeiramente entregaram suas vidas e se uniram em uma comunidade, atendendo as necessidades uns dos outros e não as suas próprias.[7] Suas vidas juntos era o único contexto no qual eles podiam obedecer ao “novo mandamento” que era a marca que distinguia os discípulos de Yahshua:
Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. (João 13:34,35)
A maior expressão de obediência aos seus mandamentos pode ser visto no resultado da pregação de Pedro no Dia de Pentecostes, 50 dias depois da ressurreição do Mestre:
“E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração,
Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.” (Atos 2:44-47)
“E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns. E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça. Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha.” (Atos 4:32-35)
Esta era uma outra passagem que me intrigava no seminário e as tentativas feitas pelos meus professores de justificar e descartá-la. Para mim era muito simples: Pedro pregou o mesmo evangelho que ele mesmo tinha obedecido,[8] e aquelas 3.000 pessoas responderam da mesma forma que ele mesmo havia respondido – eles deixaram tudo para seguir Yahshua[9] através de seguir os apóstolos que seguiam a Ele. O resultado era uma comunidade – “todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum”.[10]
Obviamente, Pedro havia simplesmente obedecido à Grande Comissão: “façam discípulos… ensinando-os a obedecer tudo que os ordenei.” Nós não temos um registro de todas as palavras que Pedro disse àqueles que queriam ser salvos, mas isso está registrado: “Com muitas outras palavras os advertia e insistia com eles: Salvem-se desta geração corrompida!”[11] Aqueles que ouviam essas muitas outras palavras eram batizados e recebiam o Espírito Santo “ que Deus dá àqueles que o obedecem.”[12] A obediência deles resultou na vida abundante de amor e unidade que está registrada de uma maneira vívida nos poucos versículos seguintes.
O Espírito que receberam os capacitou a amarem-se uns aos outros, assim como seu Salvador havia amado Seus primeiros discípulos, aos quais Ele havia dado aquele novo mandamento: “amem uns aos outros assim como Eu amei vocês.”[13] Como é que Ele os amou?
Você deve se lembrar que Ele deu esse mandamento na noite antes de ser crucificado. Seus discípulos tinham estado com Ele dia e noite pelos últimos três anos e meio. Eles haviam experimentado seu cuidado amoroso diário por eles de incontáveis maneiras, ao ponto dele lavar os pés sujos deles naquela noite, como um servo qualquer. “Amem uns aos outros assim como Eu amei vocês.” O que você acha que os discípulos entenderam quando Ele disse aquelas palavras para eles naquela noite? Como é que Ele os havia amado? Foi assim que eles ensinaram os 3.000 a amarem uns aos outros: Dando as suas vidas uns pelos outros todos os dias.14 O novo mandamento não pode significar nada menos que isso.
“Se me amais, guardai os meus mandamentos. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou.” (João 14:15,21,24)
Eu não aprendi isso no seminário. Não fui ensinado a cumprir a Grande Comissão, nem sequer fui capaz de fazê-la, pois eu mesmo fui um produto da Grande Omissão. Eu não fui ensinado a obedecer aos mandamentos Dele. Mas desde que eu era disposto a obedecê-los, o Pai me atraiu até o Filho, isto é, ao verdadeiro Corpo de Messias, aonde os verdadeiros discípulos estavam obedecendo aos mandamentos Dele, derramando suas vidas uns pelos outros todos os dias. Lá eu ouvi o verdadeiro evangelho e finalmente pude fazer aquilo que sempre quis fazer – me tornar um discípulo de Yahshua e abandonar tudo para segui-lo. Eu recebi o Espírito Santo Dele e estou aprendendo a amar meus irmãos e irmãs. À medida que obedecemos a Ele mais e mais Ele tem se revelado a nós, exatamente como Ele prometeu.15
É muito melhor que o seminário.
É vida eterna!
David
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